24 de junho, 2011

         ADORAR  DEUS EM ESPÍRITO E VERDADE
Adoração como acolhimento e compromisso
      Quero, antes de mais,  saudar cordialmente todos os participantes deste simpósio e congratular-me com a comissão organizadora e com o seu promotor que é o Santuário de Fátima. Trata-se do simpósio que de algum modo culmina o primeiro ano de comemoração do Centenário das Aparições, com o significativo tema: “Adorar Deus em espírito e verdade. Adoração como acolhimento e compromisso”.
1. Quando gizámos o itinerário espiritual e pastoral do Centenário na base da simbólica do candelabro com as sete lâmpadas, pude então escrever a este respeito: “A primeira luz deste candelabro espiritual é a da Beleza do Rosto de Deus, do seu Amor Trinitário, no qual os pastorinhos foram introduzidos pelo Anjo e pelas mãos de Nossa Senhora, suscitando neles o encanto, o gosto e o gozo da presença de Deus, que se exprimiam em adoração. “Nós estávamos a arder naquela luz que é Deus e não nos queimávamos. Como é Deus!!!”; “Gosto tanto de Deus!” – exclamava o Francisco. Na simbólica bíblica do candelabro, a luz da adoração alimenta toda a outra luz. É a chama central na qual as outras se acendem”.
De facto, quando li, pela primeira vez, as memórias da Irmã Lúcia numa perspectiva teológica, o que mais me impressionou foi verificar que as Aparições de Fátima, nos seus três ciclos angélico, mariano e cordimariano, têm no início, no centro e no fim, a presença do mistério de Deus no seu rosto trinitário e a expressão da sua adoração por parte dos videntes. Pareceu-me então que o grande apelo de Fátima era, antes de mais, reconduzir a adoração do verdadeiro e único Deus para o centro da vida da Igreja, do mundo e da existência cristã.
Punha-se inequivocamente em primeiro lugar e em todo o esplendor o primado de Deus, a prioridade absoluta do tema: Deus. Antes de tudo e no centro de tudo está Deus. “Onde o olhar sobre Deus não é determinante, tudo o resto perde a sua orientação” (Bento XVI).
E o modo recto e justo de responder a Deus na fé – a ortodoxia – é a adoração. A justa aprendizagem da adoração é o dom principal que nos vem da fé.
A adoração é a expressão da fé proclamada no conhecido texto do Schemá Israel: “Escuta Israel: o Senhor é nosso Deus, o Senhor é um só. Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma, com todas as tuas forças” (Dt 6, 4-5).
Ao Deus-Amor o crente responde com um amor total que empenha toda a sua vida, as suas forças, o seu coração. Está em questão a prioridade do primeiro mandamento. Neste sentido, a adoração implica uma conversão verdadeiramente teologal que, por sua vez, tem uma dimensão humana, histórica e cósmica.
A verdadeira adoração é acolher Deus como Deus, deixar-se encher pelo seu amor, deixar que Ele seja Deus em nós; é dar-se a si mesmo a Deus e aos homens. A verdadeira adoração é o amor. Não destrói, mas purifica, renova, transforma, recria o nosso coração, cria a verdade do nosso ser. Pela graça do Amor derramado pelo Espírito de Deus nos nossos corações somos adoradores em espírito e verdade.
2. No tempo das Aparições, o primado de Deus e da sua adoração foi afirmado face a um ambiente, a uma cultura e a poderes políticos e ideológicos de ateísmo militante e persecutório que se propunham erradicar Deus das consciências e da sociedade tal como se erradicam as raízes de um cancro maléfico com um propósito determinado e programado: “É preciso que Deus morra para que o homem viva”.
Hoje, o apelo de Fátima chama-nos a proclamar e a aprofundar o Primado de Deus face à cultura pós-moderna nas diversas formas de niilismo, de ateísmo prático, de indiferença religiosa de muitos que vivem como se Deus não existisse, de eclipse cultural do sentido da presença de Deus, isto é, de quem pensa e sente um Deus distante que não se interessa pessoalmente por nós nem suscita em nós algum interesse por Ele. Onde Deus desaparece do horizonte da vida, o homem cai na escravidão da idolatria, dos ídolos fabricados por cada um ou pela cultura dominante que vêm ocupar o lugar próprio de Deus como mostraram os regimes totalitários e como mostram as várias formas de niilismo, hedonismo e relativismo  actuais.
3. “À crise de Deus só se pode responder com a paixão por Deus”, escreveu J. B. Metz. O desafio é pois ajudar a descobrir a beleza, o encanto e o gosto de Deus, no seu amor trinitário universal, que foram dados a conhecer e experimentar, por graça extraordinária, aos pastorinhos e que constituíam o cerne da sua adoração e os abriu à universalidade do amor.
Este é o grande desafio para a transmissão da fé cristã hoje e também para a pastoral e a espiritualidade de Fátima. E, naturalmente, para a teologia nas suas diversas vertentes: dizer Deus hoje na cultura contemporânea, suscitar adoradores em espírito e verdade, sobretudo através da via da beleza, da sabedoria, da experiência mística quotidiana, do diálogo da fé com a razão como possibilidade de abrir novas vias de acesso de Deus ao coração do homem e de acesso do homem ao coração de Deus. Eis a razão deste nosso simpósio, que esperamos seja frutuoso.
+ António Marto, Bispo de Leiria-Fátima
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